03 janeiro 2010

Veja quem paga as contas de Remo e Paysandu

 interessante reportagem de hoje no Jornal Amazoni, mostra a realidade da dupla REXPA , que literalmente estao falidos, nao fosse os adeptos, que sao muitos,  esses times teriam que pedir concordata.
Mas se houver seriedade no trabalho, as chances de sobreviver sao grandes, comparas ao do boto cor-de-rosa.


LEANDRO LAGE

do Anazonia Hoje


Azulinos e bicolores estão carecas de saber que Remo e Paysandu vivem a pior crise financeira da história dos dois clubes. Os torcedores não sabem, porém, que eles é que pagam essa conta. Hoje, os 'gigantes' paraenses só têm conseguido administrar as volumosas dívidas trabalhistas com os R$ 60 mil depositados mensalmente pelo Banpará em cada conta. Desde janeiro de 2009, a maior fatia do montante usado para quitar as reclamações contra Leão e Papão na Justiça do Trabalho vem do bolso do contribuinte.

No total, foi pago R$ 1,4 milhão com dinheiro público, sob o disfarce de publicidade nas camisas de Leão e Papão. O dinheiro caiu direto nas contas abertas pelo projeto Conciliar, desenvolvido pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) para intermediar as negociações entre os clubes e os numerosos credores. 'Recebo os credores em meu gabinete para negociar', diz a desembargadora Francisca Formigosa. 'Essa é a única forma de resolver essa questão, chamando a responsabilidade para a Justiça do Trabalho', diz.

Além do Banpará, os clubes usam parte dos patrocínios da Unimed e Cerpa para quitar as dívidas, que chegam a R$ 6 milhões, do Remo, e R$ 4 milhões, do Paysandu. Na última semana, o tribunal iniciou um levantamento para avaliar o quanto exatamente os clubes devem a antigos funcionários, treinadores e jogadores. Por enquanto, só se sabe que a dívida azulina reduziu consideravelmente com o leilão da sede campestre, em Benfica, e que a dívida bicolor tem caído, mas num ritmo lento.

'Foi vendida a sede do Remo e, com isso, conseguimos pagar uma quantidade grande. Atualmente, o principal depósito é do Banpará. E também é depositado um pequeno valor pela Rede Celpa. Com isso, concluímos o quitamento dos processos de 2006', detalha Formigosa, referindo-se ao projeto 'Seu time é a sua energia'. Os bloqueios de renda não entram na soma, pois, além de inexpressivos, são encaminhados direto para as varas onde são executados os processos judiciais.

Para a desembargadora, os clubes não compraram a ideia do projeto. E restou ao tribunal continuar com as penhoras do Baenão e da sede social do Paysandu, que devem ir a leilão em 2010. 'Os clubes não estão se esforçando para pagar. Eles não a divulgaram. Com isso, não encontramos outra alternativa senão manter a penhora do Baenão. O Paysandu tem a sede social penhorada, mas não houve licitante', revela Francisca Formigosa.

Embora não tenham apostado no projeto Conciliar como deveriam, as atuais administrações dos clubes, que têm pago pela megalomania das gestões anteriores, pelo menos aprenderam a lição. Nenhum processo trabalhista referente a 2009 foi aberto contra o Remo. Já o Paysandu recebeu uma bomba nas últimas semanas. O ex-goleiro Ronaldo cobra R$ 1 milhão em salários atrasados. Fora os processos abertos por Rafael Vieira e Rafael Oliveira, demitidos ao longo do ano.

Permuta de estádio mostra que dívidas não são prioridade

A permuta do Baenão é uma prova de que os clubes não têm dado prioridade às dívidas trabalhistas. No início, a troca do estádio Evandro Almeida por outro seria feita essencialmente para quitar as dívidas com o dinheiro que restasse ao Remo depois de erguer uma nova praça. Mas, ao longo da negociação, Amaro Klautau mudou o foco da transação para a construção de um novo estádio, como se fosse possível fazê-lo sem antes quitar os débitos trabalhistas.

'O principal motivo para a venda do Baenão é o fato de, hoje, ele não atender às exigências do Estatuto do Torcedor. A troca do Baenão pela Arena do Leão representa a oportunidade de o Clube do Remo conseguir um estádio moderno e agrega a possibilidade de podermos quitar dívidas', respondeu Klautau ao repórter Alan Bordallo, em entrevista publicada em O LIBERAL e AMAZÔNIA no último dia 12. A permuta, contudo, só será possível se o Remo livrar o Baenão da penhora.

A negociação do estádio azulino deve ser assistida pela Justiça do Trabalho, segundo a desembargadora Francisca Formigosa. 'Esse imóvel está penhorado. Não pode ser vendido. Há uma penhora antiga na 7ª vara', alerta a magistrada. 'Com essa transação, receio é que o dinheiro não entre nas contas do projeto. Eles podem fazê-la, mas o dinheiro terá que ser depositado na conta. Eles vendem o Baenão, fazem um novo estádio e o restante pagaria os processos', diz.

Dos R$ 33,2 milhões oferecidos pela Leal Moreira e pela Agra Incorporadora pelo Baenão, pelo menos R$ 6 milhões serviriam para quitar as dívidas. Sobrariam, portanto, R$ 27,2 milhões para comprar um terreno, erguer um estádio e um centro de treinamento. 'Seria uma das fontes de renda a venda deste imóvel', reconhece a desembargadora, que não vê solução para o caso do Paysandu. 'Nesse caso, a situação fica mais difícil, porque não há uma negociação semelhante', afirma.

Apesar das últimas declarações de Amaro Klautau, o advogado Mauro Maroja, do departamento jurídico do Remo, assegura que toda a negociação do Baenão será feita com o aval da Justiça do Trabalho. 'Primeiro serão resolvidas as questões trabalhistas', garante Maroja, que sabe o impacto disso nos valores negociados. 'Não tenha dúvidas de que comprometerá parte do valor, mas faz parte da negociação, feita para resolver as questões trabalhistas', declara.

Desembargadora critica falta de 'trabalho de marketing'

Falta marketing. O que a desembargadora Francisca Formigosa queria ver os clubes fazerem, segundo o advogado Bruno Castro, que já representou o Paysandu e, atualmente, presta consultoria na área esportiva, é um forte trabalho de marketing para aumentar as arrecadações e quitar as dívidas de uma vez por todas. Uma série de clássicos Re x Pa, camisas promocionais, projetos como o sócio-torcedor, entre outras ações como essas seriam úteis no caso de Remo e Paysandu.

'No projeto Conciliar, os clubes se obrigaram a trazer alternativas de pagamento das dívidas', explica Bruno Castro, advogado bicolor à época da negociação com a Justiça do Trabalho. 'Eles poderiam fazer um Re-Pa, pegar 20% da renda e oferecer ao projeto. O Paysandu, por exemplo, não teve um departamento de marketing para pensar alternativas, não lançou uma blusa, enfim, os clubes não tiveram o devido interesse', comenta.

Em 2009, segundo Bruno Castro, poucos processos foram quitados. Para completar, o goleiro Ronaldo entrou com uma ação trabalhista cobrando R$ 1 milhão. Se o presidente Luiz Omar Pinheiro não tem culpa pelos atrasos salariais no tempo em que Ronaldo defendeu o gol bicolor, o dirigente responde por não ter feito um levantamento dos credores que ainda não recorreram à Justiça do Trabalho para cobrar antigas dívidas do Paysandu.

A audiência de Ronaldo será em janeiro. O jogador alega que o clube não pagou todos os salários durante os dez anos de serviços prestados ao Papão. Por outro lado, o abnegado Ricardo Rezende, ex-diretor do clube, argumenta que quitou as dívidas com uma pick-up que deu de presente ao goleiro. A audiência está marcada para janeiro.

Projeto bicolor é ficar livre dos bloqueios de renda em 2010

O Paysandu não pretende vender a Curuzu, mas está se planejando para arrecadar, em 2010, pelo menos R$ 3 milhões em patrocínios. A ideia é partir para uma estratégia mais eficiente e se livrar dos bloqueios de renda, que prejudicam a folha de pagamento do clube. Em 2009, o Papão conseguiu, sozinho, mais de R$ 1 milhão em patrocínios. Só que o valor seria suficiente para quitar apenas um quarto do total de dívidas trabalhistas do clube.

Pagar as contas com os patrocínios é mais eficiente porque os valores seguem direto para a conta do projeto Conciliar. O bloqueio de rendas é feito de acordo com os processos e, normalmente, paga somente os juros das ações. 'A menina dos olhos é o projeto conciliar. Ele quita a dívida. Por isso nossa meta para 2010 é que todo o nosso patrocínio será revestido para o projeto conciliar. Estamos com uma expectativa de R$ 3 milhões para quitar as dívidas', diz o advogado Francisco Fidelis, do Paysandu.

A parceria com o Remo, segundo Fidelis, é essencial para tirar os dois clubes da pindaíba. E a arma é o clássico Re x Pa. 'Estamos com um projeto de fazer dois clássicos Re x Pa só com a renda direcionada para o Conciliar. Nosso problema é comum. E temos tido um bom relacionamento com o Remo. Não podemos fazer nada sem a participação deles. Afinal, são as maiores torcidas do Pará', justifica o chefe do departamento jurídico do Paysandu.

Enquanto isso, os clubes manterão o acordo com o Banpará. E o valor de R$ 60 mil mensais para Remo e R$ 60 mil para o Paysandu será reajustado. 'Já estamos conversando com o Banpará e vai ser melhorado. Esse reajuste vai ser feito para 2010', confirma Fidelis.

Embora não tenham tantos processos, as atuais administrações de Remo e Paysandu tiveram que mudar antigos hábitos. 'Eles são amadores. A desembargadora sabe disso. Contratam jogador por 20 mil, pagam integralmente 20 mil e o Paysandu fica com todo o ônus. Se trata o jogador de forma amadora. Mas isso tem mudado com essa gestão, pois não podemos fazer tradição do endividamento', ensina o advogado.

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