01 maio 2010

Os “blefados” de Serra Pelada\ Parte 1

Quantas historias do garimpo de Serra Pelada, muitas delas foram enterrdas na lama da lavra . Aqueles homens transportaram nas costas uma montanha de um lado para outro. Muita gente bamburrou, outros enterraram tudo o que tinham ali. A primeira vez que estive em Serra Pelada, assisti uma cena que me deixou impressionado, a enorme fila que se formava em frente ao escritorio da Caixa Economica. Os garipeiros chegavam de madrugada para vender suas pepitas e marcavam seus lugares na fila com latas de cervejas, refrigerantes, carteiras de cigarro etc... e a ordem era obedecida.

Os Garrinchas de Serra Pelada

Eles ficaram milionários ao tirar ouro da mina, mas esbanjaram com mulheres, carros e bebida - e hoje vivem na miséria

Gustavo Poloni, enviado especial a Serra Pelada no Portal IG

Depois de receber uma bolada em dinheiro, Índio fretou um avião da falida Transbrasil para encontrar uma namorada no Rio e passou dois meses hospedado no Copacabana Palace. Hoje, vive da aposentadoria de R$ 515 da atual mulher, sua 14ª companheira. Com Zé Sobrinho aconteceu algo parecido. Com os milhões que ganhou no trabalho, promoveu festas onde não faltavam bebidas importadas e mulheres bonitas. Aos 70 anos, dá expediente numa cooperativa para pagar as contas. As trajetórias de Índio e Zé Sobrinho lembram a história de muitos jogadores de futebol, como Garrincha, o gênio de pernas tortas que conquistou duas Copas do Mundo. Nascidos em famílias pobres, ficaram milionários da noite para o dia, não souberam administrar suas fortunas e agora vivem à beira da miséria. A diferença é que os dois não enriqueceram jogando bola, mas garimpando ouro em Serra Pelada na década de 1980. “Não gosto de falar dessa história”, disse Índio ao iG em sua casa de madeira e sem rede de esgoto no povoado que reúne cerca de 6 mil pessoas, a 55 quilômetros de Curionópolis (PA). “Às vezes parece até que foi um sonho”.

Foto: Salviano Machado

Em casa com a mulher, Índio vive ma nova realidade: depois de tirar mais de uma tonelada de ouro de Serra Pelada, o garimpeiro fretou um avião para ir ao Rio de Janeiro

A história de José Mariano dos Santos, o Índio, cuja mãe ascendia a tribos locais, ganhou contornos de lenda em Serra Pelada. Nascido em 1953 em Penalva, município a 250 quilômetros de São Luís do Maranhão, largou a escola para ajudar a pagar as contas de casa. Trabalhava numa oficina de motosserras no município paraense de Jacundá quando ouviu falar de Serra Pelada pela primeira vez. Não pensou duas vezes e, aos 27 anos, resolveu tentar a sorte na mina de ouro. Durante os dois primeiros anos só conseguiu o suficiente para sua subsistência. Não imaginava o que estava por vir. Entre 1982 e 1986, Índio “bamburrou” (enriqueceu, na gíria dos garimpeiros) ao garimpar 1.183 quilos de ouro – R$ 81,5 milhões em valores atualizados. Com os descontos de impostos e pagamentos de empregados, sócios e fornecedores, ficou com um lucro de 411 quilos (cerca de R$ 28 milhões). “Com esse dinheiro o cabra analfabeto quer ir logo atrás de mulher, boate e carro novo”, contou.

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