24 dezembro 2010

A ÁGUIA VOLTOU! Entrevista com Flávio Goiano, O senhor da virada






Flávio Goiano curte os louros de quem levou a equipe da rabeira da tabela à próxima fase do Parazão

Nildo Lima


Portal ORM


De volta ao futebol do Pará, após ter sido ídolo das torcidas de Remo, Paysandu e da própria Tuna Luso na época em que era jogador, o goiano Flávio Ataíde Lopes Cavalcante, 38 anos, tem muito o que festejar neste final de ano. Ele é um dos principais responsáveis pela volta da Lusa à elite do Campeonato Paraense, o que não acontecia há dois anos. A conquista veio com a suada vitória - 2 a 1 - na última quarta-feira, diante do Santa Rosa. Mas a virada da Lusa na primeira fase da competição começou bem antes: no dia 12, quando o treinador estreou na direção da equipe, derrotando o Ananindeua, até então invicto e líder da competição. A partir daí, a Lusa passou a colecionar vitórias, encerrando sua participação na primeira fase do campeonato como primeira colocada, com 15 pontos.


Goiano assumiu a direção do time em substituição ao ex-treinador Zé Carlos, que não resistiu a derrota frente ao Sport Belém. De início, o novo treinador resistiu a ideia de ocupar o cargo, mas acabou cedendo aos apelos do presidente Fabiano Bastos e dos próprios jogadores do clube. Com o objetivo do time atingido, agora, Goiano deve continuar na direção da Lusa e já faz planos para isso, conforme diz nesta entrevista. O treinador, que nasceu em Goiânia, revela a receita que usou para tirar o time do atoleiro e levá-lo a classificação. Ele comenta, ainda, a saída de alguns jogadores do elenco, e a dramaticidade do último jogo. Segundo Goiano, esta não foi a primeira vez que passou por esse tipo de situação em sua carreira. Fechando o bate-papo, ele admite que as divisões de base da Lusa precisam voltar a revelar grandes jogadores.




De onde você tirou tanta confiança para afirmar que a Tuna estaria na fase principal do Paraense, quando o time caia pelas tabelas e muita gente não confiava mais?


Senti que o grupo reunia condições de chegar lá ao olhar nos olhos dos atletas. Dava para ver que todos estavam querendo conquistar uma das duas vagas. O trabalho do dia a dia também me passou essa certeza. O grupo mostrava vibração. A própria cobrança entre os jogadores era um sinal de que o time poderia avvançar no campeonato. Eles se cobravam muito antes, durante e após os treinamentos. Quando disse nas entrevistas que a Tuna chegaria à próxima fase não foi do nada. Foi de uma grande dose de confiança que me foi passado pelo grupo. Uma outra coisa que me passou a certeza na classificação foi a maneira como os atletas encaravam as cobranças da comissão técnica.


Qual a primeira medida tomada por você para tirar o time do fundo do poço em que se encontrava dentro da competição?


Acho que foi mexer com o estado emocional do grupo. Os atletas mostravam confiança, mas precisavam de uma palavra de incentivo, de motivação. Foi a primeira coisa que procurei fazer ao assumir o comando da equipe. Comentei com eles nas minhas preleções que o time tinha quatro decisões pela frente e que não podia vacilar em nenhuma das partidas. Eles entenderam a mensagem e o resultado veio. No jogo com o Santa Rosa, no vestiário lá de Mãe do Rio, falei ao grupo que a gente não só conseguiria a classificação, mas que ao final da rodada nossa equipe seria a primeira colocada. Foi com esse espírito que o grupo foi a campo.




A mudança de esquema tático, saindo daquele emaranhado de números para o tradicional 4-4-2, influenciou muito, concorda?


Veja bem, muita gente falou que o atleta paraense está acostumado a jogar no 4-4-2 e que qualquer outro esquema complica. Não é bem assim. O Águia joga há bastante tempo no 3-5-2 e tem feito boas campanhas. O que tem de ser levado em consideração é o material humano que o treinador tem em mãos. É assim que qualquer sistema de jogo funciona, ou seja, dependendo das peças que o comandante do time dispõe. É evidente que a volta de alguns jogadores, entre eles o Jaílson e o Fabinho, tiveram papel importante para o sucesso da equipe. Outros atletas, como o Fininho, por exemplo, passaram a render bem mais do que vinham rendendo. A própria entrada do Negretti ali no meio-campo deu uma consistência maior ao time.




Qual a importância do zagueiro Charles e do volante Analdo, jogadores mais experientes, para a arrancada da equipe?


Muito grande. São dois jogadores que somam bastante não só pela rodagem que têm, mas também pela qualidade técnica que possuem. No lance do gol do Giovanni, contra o Santa Rosa, que nos deu a classificação, o Analdo teve toda a calma para iniciar a jogada. Talvez um jogador com menos experiência não tivesse toda aquela calma que ele teve.




Agora, o Charles e o Analdo serão devolvidos ao Águia e o Fininho já acertou com o Remo, o que fazer diante dessa debandada, que deve levar outros atletas?


Francamente ainda não parei para pensar sobre isso. Acredito que a diretoria vá tentar segurar alguns desses atletas. Sei que é difícil em função da valorização do grupo. É evidente que também tive a oportunidade de observar alguns jogadores que disputaram a primeira fase por outras equipes e que agora estão desempregados e que poderão, quem sabe, reforçar nosso grupo. Tenho alguns nomes de fora do estado, mas isso precisa ser discutido com a diretoria. Cheguei a indicar, antes do começo do campeonato, dois jogadores, o meia Vitor Castro e o atacante Léo Andrade, mas eles acertaram com o Fortaleza/CE e a Ponte Preta/SP.




Você assumiu o comando do time numa emergência, o seu pensamento agora é permanecer no cargo?


Gostaria de continuar trabalhando na Tuna, independente de função. Não tenho ainda uma posição definitiva por parte da diretoria sobre essa questão. Isso fica a cargo da direção do clube. O presidente (Fabiano Bastos) já deu a entender que gostaria que eu continuasse na função de técnico, mas a gente ainda não conversou de forma oficial. Se realmente houve esse interesse de minha parte não haverá problema. Sigo trabalhando como treinador.




A classificação obtida diante do Santa Rosa foi a situação mais dramática vivida por você na carreira?


Foi uma delas. Tive um acesso na 2ª Divisão do Goiano nos mesmos moldes da que conseguimos em Mãe do Rio. Na época eu era auxiliar-técnico no Rioverdense/GO. Nosso gol aconteceu aos 40 minutos do segundo tempo. No Goiatuba, também lá de Goiás, aconteceu algo parecido com o ocorrido aqui na Tuna. Todo mundo dizia que o time já estava rebaixado e em sete partidas conseguimos cinco vitórias, garantindo a permanência da equipe na elite goiana.




Qual sua expectativa para a fase principal, que é, teoricamente, bem mais forte, contando com a presença de Remo, Paysandu e Águia, as três principais forças do futebol local?


Não é segredo para ninguém que Remo e Paysandu são sempre o fiel da balança no futebol do Pará. Mas não podemos esquecer que essa primeira fase foi bastante disputada, tanto que até a última rodada ninguém podia afirmar com segurança quem passaria à etapa principal do campeonato.




As divisões de base da Lusa contribuíram até que ponto com a campanha do time?


O grupo conta com apenas dois jogadores vindos das divisões inferiores. Não tenho dúvida de que é muito pouco. Por isso tive uma conversa com o presidente Fabiano (Bastos) para revitalizar as categorias inferiores, que tradicionalmente sempre revelaram bons jogadores. Acho que a base da Tuna está muito fraca. Precisamos voltar com urgência a revelar grandes craques. Acredito que acontecendo isso todo o nosso futebol sairá ganhando. A queda de Remo e Paysandu, ao meu ver, está relacionada a esse problema vivido pela Tuna. Quantos jogadores de Leão e Papão em outros tempos não foram revelados no Souza?

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