Flávio Goiano curte os louros de quem levou a equipe da rabeira da tabela à próxima fase do Parazão
Nildo Lima
Portal ORM
De volta ao futebol do Pará, após ter sido ídolo das torcidas de Remo, Paysandu e da própria Tuna Luso na época em que era jogador, o goiano Flávio Ataíde Lopes Cavalcante, 38 anos, tem muito o que festejar neste final de ano. Ele é um dos principais responsáveis pela volta da Lusa à elite do Campeonato Paraense, o que não acontecia há dois anos. A conquista veio com a suada vitória - 2 a 1 - na última quarta-feira, diante do Santa Rosa. Mas a virada da Lusa na primeira fase da competição começou bem antes: no dia 12, quando o treinador estreou na direção da equipe, derrotando o Ananindeua, até então invicto e líder da competição. A partir daí, a Lusa passou a colecionar vitórias, encerrando sua participação na primeira fase do campeonato como primeira colocada, com 15 pontos.
Goiano assumiu a direção do time em substituição ao ex-treinador Zé Carlos, que não resistiu a derrota frente ao Sport Belém. De início, o novo treinador resistiu a ideia de ocupar o cargo, mas acabou cedendo aos apelos do presidente Fabiano Bastos e dos próprios jogadores do clube. Com o objetivo do time atingido, agora, Goiano deve continuar na direção da Lusa e já faz planos para isso, conforme diz nesta entrevista. O treinador, que nasceu em Goiânia, revela a receita que usou para tirar o time do atoleiro e levá-lo a classificação. Ele comenta, ainda, a saída de alguns jogadores do elenco, e a dramaticidade do último jogo. Segundo Goiano, esta não foi a primeira vez que passou por esse tipo de situação em sua carreira. Fechando o bate-papo, ele admite que as divisões de base da Lusa precisam voltar a revelar grandes jogadores.
De onde você tirou tanta confiança para afirmar que a Tuna estaria na fase principal do Paraense, quando o time caia pelas tabelas e muita gente não confiava mais?
Senti que o grupo reunia condições de chegar lá ao olhar nos olhos dos atletas. Dava para ver que todos estavam querendo conquistar uma das duas vagas. O trabalho do dia a dia também me passou essa certeza. O grupo mostrava vibração. A própria cobrança entre os jogadores era um sinal de que o time poderia avvançar no campeonato. Eles se cobravam muito antes, durante e após os treinamentos. Quando disse nas entrevistas que a Tuna chegaria à próxima fase não foi do nada. Foi de uma grande dose de confiança que me foi passado pelo grupo. Uma outra coisa que me passou a certeza na classificação foi a maneira como os atletas encaravam as cobranças da comissão técnica.
Qual a primeira medida tomada por você para tirar o time do fundo do poço em que se encontrava dentro da competição?
Acho que foi mexer com o estado emocional do grupo. Os atletas mostravam confiança, mas precisavam de uma palavra de incentivo, de motivação. Foi a primeira coisa que procurei fazer ao assumir o comando da equipe. Comentei com eles nas minhas preleções que o time tinha quatro decisões pela frente e que não podia vacilar em nenhuma das partidas. Eles entenderam a mensagem e o resultado veio. No jogo com o Santa Rosa, no vestiário lá de Mãe do Rio, falei ao grupo que a gente não só conseguiria a classificação, mas que ao final da rodada nossa equipe seria a primeira colocada. Foi com esse espírito que o grupo foi a campo.
A mudança de esquema tático, saindo daquele emaranhado de números para o tradicional 4-4-2, influenciou muito, concorda?
Veja bem, muita gente falou que o atleta paraense está acostumado a jogar no 4-4-2 e que qualquer outro esquema complica. Não é bem assim. O Águia joga há bastante tempo no 3-5-2 e tem feito boas campanhas. O que tem de ser levado em consideração é o material humano que o treinador tem em mãos. É assim que qualquer sistema de jogo funciona, ou seja, dependendo das peças que o comandante do time dispõe. É evidente que a volta de alguns jogadores, entre eles o Jaílson e o Fabinho, tiveram papel importante para o sucesso da equipe. Outros atletas, como o Fininho, por exemplo, passaram a render bem mais do que vinham rendendo. A própria entrada do Negretti ali no meio-campo deu uma consistência maior ao time.
Qual a importância do zagueiro Charles e do volante Analdo, jogadores mais experientes, para a arrancada da equipe?
Muito grande. São dois jogadores que somam bastante não só pela rodagem que têm, mas também pela qualidade técnica que possuem. No lance do gol do Giovanni, contra o Santa Rosa, que nos deu a classificação, o Analdo teve toda a calma para iniciar a jogada. Talvez um jogador com menos experiência não tivesse toda aquela calma que ele teve.
Agora, o Charles e o Analdo serão devolvidos ao Águia e o Fininho já acertou com o Remo, o que fazer diante dessa debandada, que deve levar outros atletas?
Francamente ainda não parei para pensar sobre isso. Acredito que a diretoria vá tentar segurar alguns desses atletas. Sei que é difícil em função da valorização do grupo. É evidente que também tive a oportunidade de observar alguns jogadores que disputaram a primeira fase por outras equipes e que agora estão desempregados e que poderão, quem sabe, reforçar nosso grupo. Tenho alguns nomes de fora do estado, mas isso precisa ser discutido com a diretoria. Cheguei a indicar, antes do começo do campeonato, dois jogadores, o meia Vitor Castro e o atacante Léo Andrade, mas eles acertaram com o Fortaleza/CE e a Ponte Preta/SP.
Você assumiu o comando do time numa emergência, o seu pensamento agora é permanecer no cargo?
Gostaria de continuar trabalhando na Tuna, independente de função. Não tenho ainda uma posição definitiva por parte da diretoria sobre essa questão. Isso fica a cargo da direção do clube. O presidente (Fabiano Bastos) já deu a entender que gostaria que eu continuasse na função de técnico, mas a gente ainda não conversou de forma oficial. Se realmente houve esse interesse de minha parte não haverá problema. Sigo trabalhando como treinador.
A classificação obtida diante do Santa Rosa foi a situação mais dramática vivida por você na carreira?
Foi uma delas. Tive um acesso na 2ª Divisão do Goiano nos mesmos moldes da que conseguimos em Mãe do Rio. Na época eu era auxiliar-técnico no Rioverdense/GO. Nosso gol aconteceu aos 40 minutos do segundo tempo. No Goiatuba, também lá de Goiás, aconteceu algo parecido com o ocorrido aqui na Tuna. Todo mundo dizia que o time já estava rebaixado e em sete partidas conseguimos cinco vitórias, garantindo a permanência da equipe na elite goiana.
Qual sua expectativa para a fase principal, que é, teoricamente, bem mais forte, contando com a presença de Remo, Paysandu e Águia, as três principais forças do futebol local?
Não é segredo para ninguém que Remo e Paysandu são sempre o fiel da balança no futebol do Pará. Mas não podemos esquecer que essa primeira fase foi bastante disputada, tanto que até a última rodada ninguém podia afirmar com segurança quem passaria à etapa principal do campeonato.
As divisões de base da Lusa contribuíram até que ponto com a campanha do time?
O grupo conta com apenas dois jogadores vindos das divisões inferiores. Não tenho dúvida de que é muito pouco. Por isso tive uma conversa com o presidente Fabiano (Bastos) para revitalizar as categorias inferiores, que tradicionalmente sempre revelaram bons jogadores. Acho que a base da Tuna está muito fraca. Precisamos voltar com urgência a revelar grandes craques. Acredito que acontecendo isso todo o nosso futebol sairá ganhando. A queda de Remo e Paysandu, ao meu ver, está relacionada a esse problema vivido pela Tuna. Quantos jogadores de Leão e Papão em outros tempos não foram revelados no Souza?
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