20 abril 2014

20 anos sem Dener

deu no blog do Flavio Gomes
SÃO PAULO – Nos idos de 1991, 1992, tínhamos nosso garoto. Hoje faz 20 anos que ele se foi. Dener, menino… Quantas noites frias no Canindé, quantos jogos que nada valiam apenas para ver você…
Sempre que ouço aquela música do Chico, “Meu guri”, lembro de você, Dener. Já lembrava, na época. Era tocar no rádio, Dener vir à cabeça. Tinha certeza que sua vida se encerraria de modo trágico e breve, nada de premonição, apenas uma certeza, porque a gente que sabia dele desde guri sabia que seria assim.
E por saber, seguíamos seus passos, dribles e gols com alegria e orgulho, orgulho que nunca acaba, porque demos ao nosso guri a chance de vencer, a gente sabia que isso seria longe do nosso Canindé, das nossas fronteiras, o mundo era maior que o Canindé, Dener era maior que o Canindé, sempre soubemos disso. Ele disse que chegava lá, e a gente esperava que chegasse. Só que a cada jogo, a cada gol, baixava uma enorme melancolia. A certeza de que aquilo era bom demais para durar. Seria curto.
Mas mesmo assim amamos nosso guri com todas as forças, de tudo fizemos para tê-lo conosco por alguns segundos a mais, e ele nos devolveu o esforço com sua arte, seu amor por aquela camisa, por aquele solo sagrado.
Dener, Dener. Morreste numa madrugada de segunda-feira sem que pudéssemos te defender, como sempre fizemos. Madrugada escura, dormindo. Soube quando cheguei de Aida, no Japão, no aeroporto. Morreu aquele menino, o Denis, me disse o motorista do amigo. Que Denis?, perguntei, O da Portuguesa, ele respondeu, e eu quase morri junto, e na Marginal passamos pelo ginásio de fachada amarela onde estava o corpo, meu Canindé, nosso campo, seu palco, templo universal. Chorei em silêncio para você não perceber, menino. Tu gostava mesmo era de fazer a gente rir.
20 anos, guri. Aquele gol contra a Inter de Limeira segue gravado na alma, não na retina, que o tempo apaga as imagens. A alma, não. Do outro lado do campo, levantei-me e bati palmas como se aplaudisse uma peça de Mozart executada por ele próprio. Ali o futebol poderia acabar, fechar suas portas e agradecer.
Dener, Dener. Fizeste o Gol Fundamental e comemoraste como sempre, gritando e enlouquecendo sua pequena plateia, seus seguidores, seus protetores. A camiseta sempre maior que os braços finos, o número quase escondido dentro do calção, a magreza, a beleza, nosso maior orgulho, nossa mais preciosa pedra.
Dener, Dener, somos muito gratos a você, guri.2

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