20 setembro 2009

Escândalos

Barrichello e Schumacher foram ladrões de galinha em Zeltweg. Senna e Prost, soldados numa guerra pessoal que valia o título. Briatore, Nelsinho e Symonds foram apenas idiotas egoístas
 

 

Coluna Warm up por Flavio Gomes

Qual é o tamanho exato do escândalo da Renault em Cingapura? É justo que se crucifique Nelsinho Piquet, um garoto de 24 anos, “pressionado”, “encostado na parede”, “jogado aos leões”? É correto que de um dia para o outro se acabe com a reputação de Pat Symonds, mais de três décadas de automobilismo, com passagens por grandes equipes, parceiro de pilotos que fizeram história? É certo entregar à FIA numa bandeja de prata a cabeça cortada de Flavio Briatore, dirigente que chegou à F-1 sem experiência alguma e, de certa forma, descobriu Schumacher e Alonso, levou os dois a quatro títulos mundiais?

O que diferencia estes vilões e seus crimes de escândalos históricos na categoria, como as trocas de posições entre Schumacher e Barrichello na Ferrari, as batidas propositais entre Senna e Prost, os carros abaixo do peso da Brabham de Piquet, as incontáveis roubalheiras que sempre fizeram parte das corridas?

Muita coisa.

Tenho lido, nestes dias, defesas furiosas de Nelsinho e seu pai, com os interlocutores argumentando, quase sempre, que o que foi feito em Cingapura não é pior, por exemplo, do que a ordem da Ferrari a Barrichello no GP da Áustria de 2002 — gentileza que Schumacher devolveu nos EUA, meses depois. Ou do que o acidente na largada do GP do Japão de 1990, em que Senna deixou o carro bater de propósito no de Prost — e admitiu. Senna e Rubens, assim, seriam iguais a Nelsinho.

Que me desculpem os que pensam dessa maneira, mas não tem cabimento comparar o episódio noturno e soturno envolvendo Piquet-pimpolho, Briatore e Symonds com esses supracitados pelos nobres colegas.

O que aconteceu em Cingapura foi um crime premeditado. E há hierarquia nos crimes. Roubar uma galinha para matar a fome do filho não resulta para o gatuno famélico na mesma pena que se dá a um assassino, ou a um seqüestrador. Barrichello e Schumacher não prejudicaram ninguém naquele GP da Áustria, exceto eles mesmos, que ficaram com cara de tacho no pódio. Bobalhões, ridículos, sacripantas, mas se estreparam sozinhos e foram julgados e condenados pela opinião pública a entrarem para a história como atores de uma ópera bufa patética.

Senna e Prost se esfregaram em 1990 (e em 1989, na mesma pista de Suzuka) disputando um título e numa circunstância de corrida. Prost poderia não fechar a porta. Teria evitado a batida. Senna foi cafajeste, mas na sua cabeça estava dando o troco daquilo que havia acontecido um ano antes. Os dois deixaram as duas corridas (Ayrton, em 1989, acabou deslcassificado). De novo, prejudicaram um ao outro, e só.

Outro caso lembrado para os que defendem o perdão a Nelsinho é a batida de Schumacher em Damon Hill no GP da Austrália de 1994, e outra dele, em Villeneuve, no GP da Europa de 1997. Por este último, o alemão perdeu todos os pontos no campeonato e o título, já que na tentativa de tirar o canadense da corrida, acabou ele rodando. Em 1994, Hill foi ingênuo. Schumacher, canalha. Mas, de novo, era uma corrida rolando, dois pilotos disputando posição e taça. Um duelo particular, sem roteiro pré-determinado.

O caso de Cingapura é completamente diferente. Nelsinho queria salvar o emprego. Briatore e Symonds, idem. Os três traçaram planos. Previram a sacanagem. Não se importaram com os adversários, com a lisura daqueles que estavam disputando a mesma corrida. Não se preocuparam com conseqüências que poderiam ter sido graves, como Nelsinho se machucar, um carro vir atrás e pegar detritos, furar o pneu, bater, morrer alguém.

Não. Pensaram só neles e em suas vidinhas medíocres. Enquanto planejavam e levavam a cabo o ardil, outros 18 pilotos (excluo Alonso, sobre ele falo depois) e milhares, sim, milhares de funcionários de todos os times, os da Renault inclusive — porque, até onde se sabe, só os três participaram da tramóia —, se esforçavam para justificar seus salários e a atenção de milhões de fãs no mundo todo.

É isso que faz com que os três patetas da Renault sejam diferentes de Schumacher, Prost, Senna, Barrichello e seus escândalos menores: o tamanho do crime, o tamanho da causa. Barrichello e Schumacher foram ladrões de galinha em Zeltweg. Senna e Prost, soldados numa guerra pessoal que tinha como prêmio para o vencedor o título mundial.

Briatore, Nelsinho e Symonds foram apenas idiotas egoístas, sem o menor senso de esportividade e respeito por seus colegas.

Quanto a Alonso, que devolva o troféu que ganhou. E fale o mais rápido possível sobre o assunto. Defenda-se. Porque seu silêncio, a esta altura, dá o direito a qualquer um de achar que ele sabia de tudo.

Cansei do disse me disse em torno desse assunto e entre todas as coisas que ja li, acho que Flavio Gomes  foi unico .disse tudo ,sem dar longas voltas.
Se estar certo ou nao, isso fica para os muitos entendidos que estao sobrando por ai......... ate mesmo por que muitas pessoas deixarao de lado esse circo mentiroso e eu me incluo nessa lista. F1? TO FORA!

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