19 outubro 2010

Isto não termina nunca?

Isto não termina nunca?



Carcará se supera, vence na raça e deixa o Papão mais um ano na Série C do Campeonato Brasileiro

TYLON MAUÉS

O futebol só o esporte mais popular e amado do planeta porque é o único onde o imponderável é uma constante. No vôlei, no basquete, em qualquer outro um time com menor qualificação técnica pode vencer, mas desde que nesse dia esteja melhor. No futebol, não. Pode-se jogar mal sempre e, num certo dia, ganhar aquele que é franco favorito. Pode-se ter uma folha salarial irrisória até para uma competição periférica como a Série C do Campeonato Brasileiro, pode-se não ter torcida, estádio próprio, estrutura, nem médico dentro de campo para atender aos jogadores, mas desde que se jogue com raça e aplicação tática, pode-se reverter qualquer vantagem e conseguir o improvável. 

Pode-se quebrar invencibilidades, ganhar aplausos de um estádio lotados de torcedores adversários e, mesmo contra todos os prognósticos, subir de divisão após apenas cinco anos de profissionalismo. Foi essa a lição que o Paysandu aprendeu ontem com o Salgueiro-PE. Como todas as lições que vêm com a dor, essa tem que ser bem guardada por todos os bicolores.

O dia 17 de outubro será lembrado pelos bicolores como o dia que começou como um dos mais belos dos últimos anos e, antes mesmo do meio-dia, parecia já estar escuro como um final de tarde. Com o jogo marcado para as 9 horas devido ao Horário Brasileiro de Verão e com os ingressos vendidos desde quarta-feira, o clima nos arredores da Curuzu era de uma esperança palpável. Quase duas horas antes do jogo o Leônidas Castro estava tomado. Não eram apenas os torcedores tradicionais que estavam lá. Famílias, crianças, namoradas, todos se espremiam sem desentendimento entre os 16 mil presentes. O clima era de camaradagem. Guardada as devidas proporções, lembrava o de fraternidade que há na procissão do Círio de Nazaré.

O sentimento de alegria só fez aumentar quando o centroavante Bruno Rangel abriu o placar para o Papão aos 10 minutos. Era a certeza do acesso para a Série B depois de amargar quatro anos na penúltima divisão do Campeonato Brasileiro. Bastava ao Papão o empate sem gols para tanto, o que dizer de uma vitória parcial? Os torcedores se abraçavam, já pensavam em como tripudiar mais ainda do rival que está em situação pior ainda e faziam planos para os almoços de comemoração. Jornalistas já pensavam em como abrir suas matérias exaltando a temporada que culminou com o acesso e pensavam onde fazer filmagens e fotografias da festa da Fiel.

Nem quando o Salgueiro empatou e assim terminou o primeiro tempo se podia imaginar o que vinha a seguir. "O time está com uns erros de posicionamento, mas no segundo tempo vai vencer nem que seja na marra", se escutava nas cabines de imprensa, com a certeza de que esse também era o pensamento corrente nas cadeiras e arquibancada.

O começo do segundo tempo dava a entender que o Paysandu faria a alegria da torcida. O time parecia ter recebido uma injeção de ânimo no vestiário. Estava mais forte, mais determinado. Mas, assim como a ave que lhe empresta o apelido, o Carcará do Sertão matou o Papão com botes certeiros. Fez dois gols com Júnior Ferrim e Edu Chiquita e poderia ter feito pelo menos mais dois. O gol do zagueiro Paulão, aos 23 minutos, fez com que muitos do estavam deixando o estádio se dessem mais alguns minutos. Mas, em vão.

No fim, uma Fiel incrédula viu a comemoração dentro da Curuzu do time pernambucano. Os torcedores estavam atônitos. Um ou outro, em gestos de boçalidade, acusavam imprensa, arbitragem ou qualquer um pelo infortúnio. A maioria estava sem saber o que fazer. A única reação que os bicolores tiveram foi uma inesperada pelo momento, mas, acima de tudo, um gesto de grandeza. Vendo a festa do Salgueiro, os torcedores aplaudiram e deixaram o estádio com a certeza de que eles, pelo menos eles, fizeram o dever de casa. 


Com o revés de 3 a 2 o Paysandu deu adeus ao sonho de acesso e à disputa da Série C. Os próximos dias serão como sempre quando um time paraense passar por uma situação dessas, de dispensas, explicações e promessas que no ano seguinte será diferente.

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