09 abril 2011

João do América

Carlos Eduardo Sangenetto
Gabriel Andrezo no LANCE!NET


Quinhentas mil visualizações tem o vídeo do "João do América", torcedor americano ilustre que aparece em um trecho do documentário "Unido Vencerás", filmado em 2002, fazendo duras críticas ao time nas arquibancadas do estádio Giulite Coutinho, durante uma partida do Torneio Rio-São Paulo. Um sucesso de um insucesso do América, que na oportunidade ficou com a última colocação na competição.



Quase uma década se passou e a participação de João Paulo Serôa de Souza, hoje com 59 anos, no documentário virou febre na internet devido a má fase na qual se encontra o América no Campeonato Carioca. O rubro da Tijuca, que já amargou um rebaixamento em 2008, está muito perto de mais uma queda, para a tristeza do torcedor, que não acredita em uma reabilitação do seu time na reta final do estadual.


(João exibe recortes antigos de jornal em mural - Foto: C.E Sangenetto)

- Acho que não tem mais jeito. Por mais América que eu seja, eu não estou vendo solução. Vai ser muito difícil - lamentou.

Se dentro das quatro linhas, sua paixão não é correspondida, João é reconhecido nas ruas por amigos e desconhecidos pela fama que ganhou na internet.
- Eu fiquei sabendo do vídeo pelo meu dentista. Ele disse que achou muito engraçado eu xingando o (José Roberto) Justo, que para mim, foi um péssimo presidente que o América teve, e meus pais tentando me acalmar, vendo como eu estava nervoso. O Justo ficava do outro lado do estádio, eu só podia xingá-lo. Não tinha outra coisa a fazer - disse o aposentado.

A paixão de João pelo América começou cedo. Com oito anos, João foi ao Maracanã em 1960 e viu o Sangue derrotar o Fluminense de virada (2 a 1) e conquistar o campeonato estadual, título mais memorável da História do clube.

- Minha tia falou que eu poderia ir ao Maracanã naquele dia porque o América iria ser campeão, então fui com a minha santa mãe. Dito e feito. Foi aí que eu me apaixonei pelo América. Só não sabia o que ia acontecer dali para frente (risos) - brinca João, cujos pais, já falecidos, eram americanos. Ambos, inclusive, aparecem no famoso vídeo tentando acalmá-lo.

O América se encontra em uma situação bem delicada no Campeonato Carioca. Restando apenas duas rodadas para o fim da competição, o clube precisa vencer seus próximos adversários - Macaé, fora de casa, e Botafogo - e ainda torcer contra Macaé, Madureira e Volta Redonda para não amargar mais um descenso. Na beira do abismo, o time pode também não contar, futuramente, com uma das mais notórias presenças nas arquibancadas:

- Vou em todos os jogos. Infantil, juvenil, mirim, profissional... Mas com o América caindo para a segunda divisão vai ser muito complicado. Estou revoltado com essa situação. Fiquei mais doente ainda. Minha pressão subiu e tudo. Quando o América caiu em 2008, quase morri. Estou muito magoado - conta o folclórico João, que ainda disse que os seus irmãos de escudo duvidam do seu afastamento dos estádios.

Confira outros trechos da entrevista com João, que soltou o verbo para cima de personalidades americanas, em sua residência:


Sobre Romário, gerente de futebol do América:

 "Romário, afinal de contas, qual é seu time do coração? Uma hora você diz que é América, outra diz que é urubu, e outra hora que é bacalhau. Você não tem respeito nem pelo seu pai que era América? Qual é a sua? Você mandou nove embora, só trouxe jogador apadrinhado, um monte de porcaria. Não estou entendendo. Qual é a sua, cara?"


Sobre Tia Ruth, torcedora-símbolo do clube:

"Minha mãe é que tinha que ser torcedora-símbolo do América. Quando o time toma uma paulada de 51 a 0 e ela fica falando "Vamos, meus filhinhos!". Beija jogador, beija adversário, juiz... Fazer isso com o time apanhando desse jeito? Não está vendo nada, né?"

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