12 maio 2011

O gol de Bob Marley


Trinta anos depois que Bob se foi..   muitas coisas vividas e combatidas por ele seguem vivas como se o mundo nao tivesse caminhando tanto.

Outro dia vi fotos de uma passeata pro-maconha,acho que no Rio, nao importa. elas existem sempre por ai.. Lembrei de Bob Marley .

Vendo o paraense Jobson se apresentar ao Bahia e prometendo uma vida nova, fui buscar no you tube alguns videos de Jobson, e ao velo comemorar seus gols, com aquele brilho no olhar. Lembrei de Bob Marley.

Mesmo trinta anos depois Bob Marley se faz presente em mim e acredito que em meio mundo.

Se fosse jogador diríamos que teve sua carreira encerrada precocemente e que uma contusão serissimacom nenhum tratamento para aquela época, o teria fastado para sempre dos relvados.

Bob era um peladeiro nato ...ja no reggae  e' o grande Rei .

Abaixo um texto serio em torno dos 30 anos sem Bob Marley .




por Rui Miguel Tovar no ionline.pt


Como é que um jamaicano que nunca fez uma única menção ao futebol nas suas canções e que nunca passaria um controlo antidoping é um fanático da bola? A resposta através de sinais de fumo  

Bob Marley, Junior Marvin, Paulo César Caju, Toquinho e Chico Buarque. Um poema bonito. Escrito há 31 anos. Quem viu, garante, não esquecerá.

É a 19 de Abril de 1980 que Bob Marley (o maior expoente da música jamaicana), Junior Marvin (guitarrista do Wailers) e Chris Blackwell (director da Island Records) chegam ao Brasil para participar numa festa da Island, a famosa editora discográfica. Aterram em Manaus para reabastecimento. E não só. O jacto não sai da pista por três horas. A ditadura militar do Brasil não vê com bons olhos aquela comitiva "esfumaçada". Só após longas negociações as autoridades cedem ao desejo da equipa de Bob Marley mas não dão vistos de trabalho, o que impede a improvisação de um concerto, do agrado do povo brasileiro, louco por reggae. De Manaus para Brasília. Do Distrito Federal para o Rio.

É aí, com três horas de atraso, que os jamaicanos correm atrás do tempo, em direcção ao quilómetro 18 da Avenida da Sambaetiba, para um campinho onde estão à sua espera Chico Buarque, Toquinho, Alceu Valença e outros, todos da equipa da Island. As equipas são definidas num instante e escreve-se um dos mais belos poemas com Bob Marley, Junior Marvin, Paulo César Caju, Toquinho e Chico Buarque. As imagens televisivas não mentem: era equipa de deuses! Antes de começar o jogo, Bob Marley ganha uma camisola 10 do Santos e sorri: "Pelé", diz. De seguida, avisa todo o mundo que joga em qualquer posição. Um (poli)valente, portanto. No final, um claro 3-0 com golos de Bob, Chico e Caju, o tal suplente de luxo do Brasil campeão mundial em 1970, o Brasil de Pelé, Jairzinho, Gérson, Rivellino e Tostão. Outro belo poema.

Caju, amante do reggae, é o mais expansivo com Bob Marley. "Sou fã da sua música", ao que o jamaicano responde: "E eu do seu futebol. Ainda me lembro do Mundial-70." Pouco mais de um ano depois, em Maio de 1981, Bob Marley morre vítima de cancro, aos 36 anos. É enterrado com uns cachimbos de canábis, a sua guitarra Gibson Les Paul, a bíblia do movimento rasta e uma bola de futebol. Que coisa! Um homem que não faz uma única menção ao futebol nas suas canções, que nunca passaria um controlo anti-doping e que nasce num país acima nos rankings da pobreza e abaixo nos rankings da FIFA é um fanático de futebol.

Antes dos concertos, Bob só relaxa com uma bola de futebol (vá, um charrito ou outro...). Nas gravações, idem, idem. O autocarro das digressões tem instalada uma televisão para ver jogos de futebol. Inclusive, o seu manager é uma das estrelas mais gloriosas do futebol jamaicano: Alan Skill Cole, o primeiro homem nascido na ilha que jogou no Brasil, quando assinou pelo Náutico nos anos 70.

Estamos nos anos 70, insistimos. "Aquele miúdo negro com uma melena apelativa que cresce em Trechtown, entre jogos de futebol do Boys Town FC (camisola vermelha, futuro negro; 75 seguidores no Facebook) e corridas desenfreadas para fugir à polícia e alcançar o Olimpo como Usain Bolt, já era. Converte-se. Não é daqueles rockstar egocêntricos cheio de álcool e droga. É um mestiço terceiro- -mundista que fala de paz e liberdade. Os rapazes da CIA não lhe acham graça nenhuma e incluem-no na sua lista de má fé, com muita vigilância e perseguição à mistura. A dois dias de dar um recital pela paz, declaram-lhe guerra e sofre um atentado na sua casa da Jamaica. No pasa nada. Bob Marley discursa na mesma, mostra as feridas de guerra a rir e é aplaudido por 80 mil entusiastas."

Entre viagens e concertos pelo mundo fora, Bob Marley finta quem lhe aparece à frente. Até a morte. Em Abril de 1977, durante um jogo em Inglaterra, pisam-lhe o dedo gordo do pé direito. Os médicos detectam-lhe uma forma de melanoma maligno. Aconselham-no a amputar o dedo. Marley diz que não. Três anos depois, a 20 de Setembro de 1980, visita Nova Iorque. Sai do Hotel Essex House, a sul do Central Park, e cai desamparado. O cancro avança. Cérebro, pulmões, fígado. Dão-lhe um mês de vida. Faz uma tentativa desesperada. Viaja para a Alemanha e é atendido por um ex-médico das SS. Melhora. Get Up, Stand Up. O cabelo cresce-lhe e até volta a jogar futebol (one love). Mas cai novamente. Irrecuperável. Só um desejo: morrer na Jamaica. Apanha um avião. Faz escala em Miami. Daí não passa. Entra no Hospital Cedars-Sinai de urgência e morre. A Jamaica chora, o mundo também. A obra mestra do reggae deixa-nos a 11 de Maio de 1981. É enterrado com uma bola de futebol. Um poema. Belo. Como este, que nos tranquiliza a todos: "Don''t you worry about a thing, cause every little thing is gonna be alright."


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